Fala ai, suavidade? Por aqui chuva.
Sabe aquele livro que
você nem lembra de onde veio, mas tem mais importância que muito calhamaço lindão
na estante? Então, a saga do velho Santiago é um desses. Não recordo como
chegou aqui, mas todo ano releio e me emociono com esse livreco de 116 páginas.
Lançado pelo Circulo do Livro (um clube do livro lá de 1970
e vráu), com ilustrações de Ênio Squeff (lindos traços), tive o prazer de ser
meu primeiro Hemingway. Nele é narrada a saga de um pescador que já é tratado
como azarado pela comunidade por estar a 84 dias sem pegar nenhum peixe.
Logo sabemos que os pais do jovem que ajudou Santiago nos
primeiros 40 dias o obrigam a trocar de barco, pois o velho já tem reputação de
azarado. Mesmo sem ganhar nada, Manolín ainda ajuda como pode e, depois de
ganhar algum dinheiro, quer voltar a sair com ele. Este o proíbe.
Esta conversa se passa em duas páginas. Temos um jovem cheio
de respeito e amor pelo velho pescador, que lhe ensinou seu ofício desde os 5
anos e herdou a convicção de que tempos ruins não duram para sempre, mesmo o pai
não compartilhando dessa fé.
Sabemos que o velho tem “olhos da cor do mar, alegres e
indomáveis” (pg. 10), o que é suficiente para entender que pouco ou nada abala
esse senhor. Quando sentam para tomar uma cerveja, outros tentam zombar de seu
azar, mas este não se importa, enquanto pescadores mais velhos sentem-se
tristes pela situação e tentam não tocar no assunto.
Quando lembram da primeira vez que pescaram juntos, o velho
“examinou-o com olhos queimados pelo sol, muito carinhosos e confiantes” (pg.
12) e pergunta se Manolín realmente lembra de tudo ou está criando memórias.
Temos uma relação pai e filho que faz um pescador pragmático desafiar a sorte,
se fosse realmente seu pai. O jovem age como um amigo que se importa em
melhorar do jeito que puder a vida do velho, seja ajudando com as iscas,
pagando uma cerveja ou simplesmente conversando sobre beisebol ou qualquer
assunto que lhes agrade.
A cabeça de Santiago funciona de uma forma interessante. Por
ser um pescador desde sempre, mas estar num nível de pobreza onde usa a única
calça dobrada cheia de jornais como travesseiro, sua humildade e respeito pela
natureza são louváveis.
Boa parte do livro é um monólogo. Não sabe desde quando, mas
desenvolveu o hábito de falar sozinho. Estes ‘diálogos’ se passam entre ele e
sua memória, seu desejo de estar com o garoto para que este o ajudasse ou ao
menos visse quando fisga o maior peixe de sua vida, seu conhecimento sobre a
vida marinha que o cercou desde sempre e, claro, seu embate épico com seu
“irmão” na outra ponta da linha.
Perseverança, fé, resistência física e mental, conhecimento de
suas capacidades,aceitação de limitações e mais um sem número de lições que você
pode absorver. Mesmo relendo sempre, ainda me emociono com o fechamento e
respeito cada vez mais a personalidade cativante do velho Santiago.
É verdade, a obra rendeu um Pulitzer de Ficção e um Nobel de
Literatura, se isso ajudar a colocá-lo na sua lista de
“TBR”. Pra mim o conteúdo já basta.
Longos dias e belas noites.
Por Thiago Natus.