Tudo o que você precisou desaprender pra virar um Idiota, de Meteoro Brasil

Nesse maravilhoso livro somos pegos pela mão e colocados frente a grandes problemas acarretados pelo rápido avanço tecnológico. Temos um mar de massa de manobra, pessoas incapazes de desenvolver senso crítico e o hábito de checar quaisquer informações recebidas, tornando-se alvos de manipulação. No meio de tanta mentira compartilhada diariamente nos são apresentados conceitos assustadores, mas não por isso menos reais.

Não deixemos a mamadeira de piroca morrer, assunto que não saia da boca de um político sem partido que conhecemos bem, mas que foi pura boataria e desinformação, mais fumaça para o total despreparo da equipe que estaria assumindo um país como seu. Não fosse o compartilhamento nervoso e sem filtro da massa, tais absurdos não estariam acontecendo.

O conceito histórico de idiota, sua raiz da antiga Atenas é apresentado para em seguida contrapor com a atualidade:

“O idiota era um egoísta no passado – e continua sendo. A diferença é que, na antiga Atenas, ele ficava de fora da política. Hoje, ele é a política. Tudo é feito por ele, para ele, em nome dele. Por isso, a prioridade absoluta do idiota é combater qualquer filosofia ou doutrina que pregue valores coletivos. Se há um coletivo, o idiota se sente ameaçado em seu direito sagrado de ser idiota”. Pg. 12

No parágrafo seguinte “Essa é a primeira lição que foi preciso desaprender para virar um idiota: o respeito a todos e tudo que não está relacionado a si mesmo”. Essa afirmação pesa bastante, temos pessoas próximas que seguem essa idéia e partindo daí todos os absurdos subseqüentes parecem plausíveis, desde que para seu próprio bem. O coletivo foi marginalizado e o social não passa de uma obrigação em algum ministério.

A morte da verdade é apontada logo no começo e somos obrigados a aceitar perante tantos fatos – e bom senso, sejamos francos – que é uma época complicada. Entra outro ponto excelente na obra, tudo tem embasamento científico, fonte sabe? O referencial bibliográfico trazido pelo Meteoro Brasil dá um calorzinho no peito e não se limita a nenhuma área, demonstrando o compromisso como o conhecimento geral.

Ao final de cada capítulo nos é oferecido um aprofundamento do assunto, dicas do que ler, ver ou jogar que também abordam o que foi debatido. Sempre pesquisei muito sobre psicologia em jogos e cultura pop em geral e adorei tais dicas, com um microresumo apontando como a obra trata do tema.

 O capítulo final Paulo Freire Não Doutrinou Ninguém tem um dos melhores inícios de todo o livro:

“Se você nega o valor de uma obra que não conhece só porque foi ensinado a ver no autor dessa obra um doutrinador sem escrúpulos, sentimos muito: esse é um sinal de que você já foi doutrinado – não há jeito fácil, brando ou carinhoso de dizer, mas é necessário que se diga mesmo assim”.

Quem nunca escutou aquele conhecido que xingou Paulo Freire sem nem saber qual a cara do cidadão e a real importância que tem para o país? Cursei licenciatura em História e lembro de professores e alunos soltando pérolas sobre o assunto.

Cada capítulo gera debate para dias. Leitura obrigatória para todos dessa maravilhosa obra apresentada pelo Meteoro Brasil. Garanto que ficará na lista de releitura por um bom tempo, já que a atualidade dos debates apresentados vai perdurar.

Por Thiago Natus.